quinta-feira, 26 de maio de 2016

O SILÊNCIO DOS TAMBORES

Papete, manu Lopes e Zé Lopes na Gravação do CD Todos os Junhos

Meu primeiro encontro com Papete foi auditivo, através de uma fita K7 que estava tocando na casa do saudoso Carlos Leão na rua Gonçalves Dias, Era hora do recreio no Colégio Santa Rosa onde eu cursava o ginásio, Acho que tinha uns quinze ou 16 anos, por aí. Era o apoteótico trabalho “Bandeira de Aço”. Soube que era de Bacabal e isso me deixou mais eufórico e fã. Com muita dificuldade, reproduzi a fita que virou a minha predileta.
Começava a fazer os primeiros acordes no violão, escrever meus primeiros versos, tinha naquela obra um espelho, queria compor daquele jeito.
Paqssado alguns anos, fui trabalhar no Sistema Mirante de Comunicação na cidade de Bacabal e através do diretor Hidalgo Neto, o popular Hidalguinho, pela primeira vez José de Ribamar Viana cantaria em sua terra natal, o palco foi o Hotel Jainara.
Nos conhecemos e fui seu cicerone em lhe apresentar parentes que ele nao conhecia, inclusive o cemitério onde foi sepultada a sua mãe. Ficamos muito amigos. Eu, Abel Carvalho, Paulo Campos, Carmem Lopes dentre outros, viramos a turma dele em Bacabal. No Arraial promovido pela Rádio Mirante, todos os anos a atração era Papete. Fomos Além.
Embalados pela cultura que efervecia em nossa cidade nos anos 80, eu, Abel Carvalho e Paulo Campos, compositores da escola de samba Unidos do Bairro D’Areia, fizemos o samba “Papete, Berimbau e Percussão” que também era o nome de um vinil muito premiado no exterior. Ele veio, se emocionou, desfilou e a escola foi campeã. Sempre nos encontrávamos pelos estúdios da vida e em shows. Chegamos a fazer show juntos.
Com a consolidação da minha carreira de músico, produtor e diretor, estivemos várias vezes gravando juntos. Em parceria com Paul Getty ele gravou no CD “Cabôco Filiz” as canções “Cabôco Filiz” e “ Sanfoneiro, Capricha no som”, no meu CD “Todos os Junhos” ele gravou comigo “Se você quer saber o que é bom passe o mês de junho em São Luis” e o clássico “Como tem Maria no Meu Bacabal”, música essa que fazia parte do repertório do seu próximo CD solo.
No ano passado ele gravou de minha autoria em parceria com Alex Brasil e Gilvan Mocidade, o sucesso “Menina Bonita” - ver you tube – que foi a canção mais rodada no Sao João.
Nos falávamos sempre, estávamos sempre em contato, apesar de lhe visitar, não chegamos a compor juntos. Ele tinha um sonho em produzir um CD com artistas bacabalense, até conversou com um ex-prefeito, mas a resposta foi aquela conhecida. Papete cantou minhas canções e tocou em meus CDs. Papete tem a alma junina, mas não viveu para ver o próximo festejo. Esse ano os arraiais serão mais tristes, os terreiros serão mais tristes, as fogueiras frias e cada balão que subir ao ceu, levará pra o grande artista, uma mensagem de saudade e paz.
Hoje o seu coração calou assim como a sua percussão. Papete nos deixa em um dia triste, em um dia santo. A música chora seu filho ilustre, os tambores calam pra ouvir seu adeus, seu violão insiste nas notas dó, lá e sol. A DÓ de lhe ver partir, o SOL da solidão de quem fica, mas o LÁ nos conforta, que é o céu, a sua nova moradia.
Dono de uma obra memorável, Papete deixou a música órfã, deixou o país órfão, deixou o Maranhão órfão e Bacabal na mais profunda tristeza.
A morte realmente nos traz esse sentimento pesado mas a providencia divina é incrível e a leveza é visível.. Hoje choveu, que glória, hoje é feriado, que bom, hoje é dia santo, que bênção e hoje, logo hoje, é dia da ascensão do Nosso Senhor Jesus Cristo, dia da sua subida ao céu,  e ele aproveitou, Papete, pra segurar em tua mão e te levar com ele até a morada do Senhor, onde serás mais um a fazer parte desta orquestra divina.
Fica na paz amigo

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